De vez em quando acontecem no cinema americano algumas coincidências que parecem de propósito, mas não são (pelo menos não em princípio). Exemplos: dois filmes sobre Robin Hood em 91, dois sobre Truman Capote em 2005... Em 2006 a coincidência envolveu filmes com a palavra "Good" no título: "The Good German" (que no Brasil virou "Segredos de Berlim"), "The Good Shepherd" ("O Bom Pastor") e "A Good Year" ("Um Bom Ano"), todos sem qualquer relação de fato além do título semelhante. Antes do lançamento os três filmes pareciam bem promissores, falava-se até em indicações ao Oscar... No fim, tiveram como pontos em comum somente coisas ruins: fracassos de público, críticas desfavoráveis e nenhuma indicação de peso ao Oscar. Uma injustiça, na verdade, pois trata-se de 3 bons filmes.
"O Bom Pastor" era o mais promissor do grupo. O astro Robert De Niro demorou 13 anos pra escolher seu segundo filme como diretor, e optou por um roteiro que passava de mão em mão há anos. Escrito por Eric Roth (que ganhou o Oscar pelo roteiro de "Forrest Gump"), conta a origem da CIA através de um personagem fictício, Edward Wilson (vivido de forma contida e excepcional por Matt Damon), alternando entre os anos 4o, quando Wilson foi recrutado em Yale para trabalhar com a inteligência americana e participar da 2a Guerra Mundial, e o inicio dos anos 60, quando se descobre que há um traidor ao mesmo tempo em que começa a crise envolvendo Cuba. O filme é um pouco longo (quase 3 horas), o que deve ter afastado parte do público, e requer uma grande atenção aos detalhes, mas nunca deixa de ser envolvente, ainda mais por causa do elenco excepcional - além do próprio De Niro, tem Angelina Jolie como a esposa de Wilson, John Turturro, Alec Baldwin, William Hurt, Michael Gambon, Billy Crudrup e uma participação especial de Joe Pesci, que não atuava desde "Máquina Mortífera 3" em 98.
"Segredos de Berlim" é um exercício de estilo do diretor Steve Soderbergh, que quis homenagear os romances de guerra e espionagem do passado, especialmente o clássico "Casablanca". Todo em preto-e-branco e ambientado durante a Segunda Guerra, o filme tem George Clooney como um jornalista militar enviado a Berlim pra cobrir a Conferência de Potsdam. Ele também quer aproveitar pra reencontrar Lena (Cate Blanchett), uma ex-namorada, e é ajudado pelo soldado designado como motorista (Tobey Maguire, respirando um pouco fora do uniforme de Homem-Aranha). Mas as coisas não são tão simples. Tecnicamente impecável e com uma reconstituição de época perfeita, o filme comete o mesmo pecado de "O Bom Pastor" ao exigir atenção absoluta do espectador pra entender as complicações da história (trata-se, afinal, de um filme de espionagem), e tem a vantagen de ser mais curto. Mas é o melhor dos três, e merecia melhor sorte no Oscar e premiações afins.
Por fim, "Um Bom Ano" é o menos pretensioso e o mais acessível dos três. Trata-se de uma comédia romântica dirigida por Ridley Scott e estrelada por Russell Crowe. Sim, parece estranho uma comédia romântica envolvendo a dupla responsável por filmes como "Gladiador", "American Gangster" e "Nottingham" (atualmente em fase de produção), mas eles surpreendem e se saem bem, principalmente Crowe, que mostra ser capaz de realmente fazer qualquer tipo de papel. Ele faz um bam-bam-bam do mercado financeiro de Londres que recebe a notícia da morte do tio (Albert Finney, sempre fantástico) e tem que ir ao sul da França verificar o estado da casa que herdou, uma pequena vinícola em que passava as férias quando criança. Obviamente ele aos poucos se encanta com o lugar, relembrando o passado (quando é interpretado pelo ótimo Freddie Highmore, de "A Fantástica Fábrica de Chocolate" e "Em Busca da Terra do Nunca"), conhecendo uma menina que diz ser uma filha que o tio não conheceu (a australiana Abbie Cornish) e se apaixonando pela dona de um restaurante local (a lindíssima francesa Marion Cotillard, de "Piaf"). Ok, a história é totalmente previsível e o romance com a francesa se resolve um pouco rápido demais. Mas o clima é tão suave, as paisagens tão lindas e os clichês tão bem disfarçados que o filme se torna irresistível.
NOTAS: 7 (Pastor), 8 (Berlim), 7,5 (Ano)
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